quarta-feira, 1 de abril de 2009

Epístola à Cleptocracia¹

Escutai vós outros, grandes e poderosos. Sois grandes porque estamos de joelhos, e poderosos se não pela soma de todos os poderes por nós cedidos em nome de um bem intitulado “comum”. Mas vós corrompestes o contrato social e fizestes do acordo tua prostituta. Sois ladrões que entram em nossas casas vestidos de ente querido, dissimula, nos enganam e nos seqüestram para seus palácios de mentiras. Cárcere privado e maldito em nossas mentes eleitoreiras...


Ai de vós que roubeis à herança dos justos, que corrompestes a última vontade dos anciãos. Que puseram aos lábios dos incapazes palavras de permissividade que inexiste. Ai de vós que subtraístes dos herdeiros a parte que lhes cabem. Que dissiparam dos jovens o prazer de sonhar e das crianças o gozo de sorrirem... Ai de vós! Ai de vós que riem e regozijam-se, contemplam e apreciam o cair dos humildes.


Então habitareis nas veredas da injustiça, e serão inquilinos da iniqüidade, aquela mesma iniqüidade que outrora habitara em vossos corações. Sereis, pois, vítimas uns dos outros, e como serpentes negras e cegas comerão uns aos outros, até que desapareçam da terra


E só restará tua geração, cobrinhas, lagartinhos, escorpiões, vermes e algumas aves, aves de rapina espreitando a carne alheia... Coração bate forte, os olhos a saltarem da órbita, veneno escorrendo na boca, abutres comedores de carniça! Crocitas estridentes e ensurdecedoras!


E comereis dos frutos da árvore de opróbrio germinada, nascida e crescida daquela semente maldita regada pelas lágrimas dos inocentes e das crianças lançadas em abandono nos escuros dos logradouros ermos de Sodoma e Gomorra de vossas mentes febris.


Deleitai-vos, então, com o sono da morte, com a tranqüilidade dos afegãos e a paz dos palestinos, em todo seu tesouro de ignomínia, tesouro este, roubado da sepultura de Abel com a benção de Caim!



1 - “Governo dos ladrões”. Clepto: roubar, subtrair, furtar; Cracia: governo, poder.

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