quarta-feira, 29 de junho de 2011

O que você tem a ver com a fusão do Pão de Açúcar e o Carrefour?


Foi anunciado, oficialmente nesta terça-feira (28/06), a fusão das gigantes varejistas Pão de Açúcar e Carrefour. Uma transação que movimentará cerca de 4 bilhões de reais e terá a participação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


Certamente, você deve está se perguntando o que tem a ver com isso. Certamente você não sabe o que é fusão, quem é o BNDES e, tampouco, o que tem a ver com essas “coisas complexas”.


Isso porque tendemos a pensar que o Pão de Açúcar e o Carrefour são “supermecados” em que fazemos a feira mensal, que o BNDES é mais uma sigla do governo e que fusão não é nada mais que um processo que se estuda na disciplina de física, no ensino médio. Não é nada disso e, fusão, aqui, também não tem nada a ver com Dragon Ball[1].


Na verdade, com tudo isso, temos a ver muito mais do que imaginamos, ou não.


Para melhor entendimento, é importante esclarecer dois pontos importantes: o que é fusão e quem é o BNDES. Vejamos.


Primeiramente, fusão, em síntese, é o processo jurídico-econômico pelo qual duas pessoas jurídicas se tornam única. No caso, será um procedimento em que o Pão de Açúcar e o Carrefour se tornarão apenas um varejista, assim como ocorreu com as Lojas Maia e o Magazine Luíza.


Para se ter uma idéia do significado da fusão de ambas as empresas, o Pão de Açúcar faturou 37,8% a mais que no ano anterior (considerando a aquisição das Casas Bahia), enquanto o Carrefour cresceu 33,7%, considerando, ainda, que o setor varejista cresceu 10,9% no ano passado - bem acima do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto – índice que quantifica a riqueza do país), que ficou em 7,5%, segundo a Folha[2].


Imagine a força que tal “união” poderá propiciar aos seus interessados, que controlaria mais de 33% do setor. Segundo economistas, se a fusão ocorrer, ambos seria o maior grupo varejista do país e um dos gigantes mundiais.


Conforme anunciado inicialmente, o procedimento contará com uma transação de quase 4 bilhões de reais de um dos participantes. Nossa! Somente um banco poderia ter tanto dinheiro, devemos pensar. Exatamente! E o banco financiador de hercúlea soma em dinheiro será o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), elemento do segundo ponto a se esclarecer.


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma empresa pública federal, segunda a mesma, “se destaca no apoio à agricultura, indústria, infraestrutura e comércio e serviços, oferecendo condições especiais para micro, pequenas e médias empresas” e na implementação de “linhas de investimentos sociais, direcionados para educação e saúde, agricultura familiar, saneamento básico e transporte urbano[3].


Além disso, o Banco atua no fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas e destina financiamentos não reembolsáveis a projetos que contribuam para o desenvolvimento social, cultural e tecnológico”, afirma a instituição.


Em outras palavras, o BNDES é subsidiado com dinheiro público, oriundo de nossos impostos.


Segundo o Planejamento Corporativo 2009/2014 do BNDES, os aspectos mais importantes do fomento econômico no contexto atual, e que devem ser promovidos e enfatizados em todos os empreendimentos apoiados pelo Banco são o desenvolvimento local, regional e socioambiental.


Questiona-se, todavia, se a fusão de ambas as empresas, com a participação do BNDES, atenderá ao interesse público, além dos aspectos sociais, direcionados para educação e saúde, agricultura familiar, saneamento básico e transporte urbano, desenvolvimento local, regional e socioambiental, conforme defende a própria empresa. Me parece que não.


Todavia, os interessados defendem que a internacionalização dos produtos brasileiros é o grande trunfo da transação. Ou seja, acredita-se que os produtos fabricados no Brasil poderão ganhar o mercado estrangeiro, mediante a fusão do Pão de Açúcar e o Carrefour e, claro, com a ajudinha bilionária do BNDES... aquele banco constituído com dinheiro público, dos nossos impostos.


Em síntese, o banco público propiciará o surgimento de um gigante privado do varejo, com recurso oriundo dos nossos impostos. Fusão, diga-se de passagem, que só beneficiará a quem já tem muito, muito, muito dinheiro. E onde fica o desenvolvimento local, regional, socioambiental, educacional etc?


Feitas estas considerações, repito, “o que você tem a ver com a fusão do Pão de açúcar e Carrefour?” Com todo esse emaranhado de informações, contradições e inversões de valores, talvez, “fusão” faça mais sentido em Dragon Ball...


Hebert Vieira



[1] Disponível em <http://www.dragonballbrasil.com.br/>. Acessado em 29 de junho de 2011.

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